20130422




Doando Sangue d'alma

Marillena Salete Ribeiro

Sei que ando amarga, acredito
Sei que ninguém ouviu meu grito
Nem houve um abraço real e verdadeiro
E nem haverá no momento derradeiro
Há tantas cicatrizes em minh'alma
Atravessei desertos sofrendo e
Ainda persiste uma dor corroendo
Tudo segue, tudo anda e nada acalma
Nunca ninguém veio me socorrer
Só chegam para cobrar e ofender

O sofrimento alheio tenho que amparar
Estender a mão direita e a esquerda
Sou obrigada com tudo me resignar
Ainda assim, não há respeito
E uma triste  dor corta o peito
Há um medo mortal em mim
Estou de alguma forma me despedindo
(...da vida de alguém, está partindo)
E nem assim, respeitam meu sofrimento
Todos sofrem, choram, lamentam
Menos eu...não sofro, não entristeço
Diante dos olhos dos outros não padeço
Está chegando a hora da partida
E não reverenciam minha dor
Estupram minh'alma sem pena
Rasgam meus sentimentos
E jogam no lixo, jogam na lama
Queimam minhas dores
Estimulam velhos tumores

Aqui estou mais uma vez órfã
Sem saber como agir, sem ação
Estou só, talvez em oração
Sigo chorando lágrimas pesadas
Que queimam minha face
Sem nem mais deixar pegadas
O lamento dançando no ar vai falecer

Uma vida inteira doei tudo de mim
Doei até sangue de minh'alma
E nas noites escuras, sempre só
Ouvindo os sussurros da madrugada
E sentindo minh'alma pelada
Em minha memória há lembranças
Do desamor, do desrespeito...
Me doei tanto, tanto me abaixei
Agora estou nua diante da vida
Nem trapos cobrem minha dor
E nem tenho direito a um tremor
Ando vagando como zumbi
Desci de tudo que subi
Não espero mais nada da vida
Também não há mais descida
De tudo que sonhei um dia
Foi sonhar que seria amada
E meus defeitos seriam respeitados
Sem hesitarem, apontam defeitos
Na vida de todos sou a imperfeita
E todos se olham no espelho, perfeitos
Neste instante que me queixo
E consigo em verso e prosa lamentar
É a única coisa que deixo
Sabendo que um dia irão ler
Nada mais de mim irão ter
quem sabe até brote uma lágrima
Pena? Será tarde demais
Não me enxergarão jamais
Já desintegrei

julho/2005
Videira-SC

Este texto encontra-se protegido pela Lei Brasileira nº. 9.610,de 1998, por leis e tratados internacionais. Direitos autorais

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