20130319


Nas minhas andanças - ENTÃO É MODERNIDADE!


Como todos sabem, minhas andanças é o meu diario aberto.
Olhando meus velhos e bolorentos escritos vieram lembranças de outros tempos, outro natais. 
Quando eu era criança o Natal tinha um sentido muito especial. Não era Natal de presentes, era algo especial que ate hoje não sei explicar. Havia uma emoção indicritível. Nosso coração infantil batia acelerando esperando Papai Noel.
Como meu pai sempre foi operário e não ganhava muito, não ganhávamos brinquedo, mas sim roupinhas novas de presente. Nossa era tão simples, mas tinha um cheiro de limpeza, também de limpeza no chão, moveis e roupas. O cheiro de limpeza era o amor que existia entre nós, o respeito por nossos pais. Minha mãe severa, matriarca. Meu pai um homem bom, terno, justo e amoroso. Sempre foi o meu melhor amigo o meu pai.
Lembro-me que quando ganhávamos algo eram sempre roupas novas, nada de brinquedos. 
Éramos muito criativos, criávamos nossos próprios brinquedos e éramos mais felizes. Não sei explicar como, mas éramos felizes dentro daquela pobreza que viviamos. Nunca faltou pão, feijão, arroz, algo de mistura (como dizia minha mãe, que era carne de frango criados no quintal, vare de gado, porco, frutas e verduras). Na horta havia hortaliças diversas, laranjeiras e limoeiros (ainda há no quintal de minha casa as arvores). 
Quando ganhei minha primeira boneca já era grande, creio que tinha uns oito anos, que felicidade! Antes dessa boneca eu fazia as minhas de panos, com um sabugo de milho, a carinha dela, seus olhinhos e boquinha feito com carvão. Meu irmão criava os carrinhos dele com madeira. Minha mãe sempre nos manteve dentro de casa, os filhos dela jamais brincaram na rua longe dos seus olhos.
Então, vem á minha mente algo que não entendo, hoje, nada satisfaz as nossas amadas crianças, deve ser o avanço tecnológico. Criamos crianças insaciaveis, insatisfeita, nada preenche, querem tudo e não brincam com nada. 
Nós, as crianças antigas e criativas ficamos hoje sem saber o que dar para nossos filhos e netos, pois, é raro agradar e ver o brilho em seus olhinhos, o mesmo que havia em nossos olhos de criança. 
Minhas reflexões não são sobre esquecimentos dos sonhos de minha infância. São momentos que permanecerão para sempre. Os ecos da alegria que havia ainda existem em mim. 
Lembro-me que durante toda minha infância, minha mãe vestia os seus três filhotinhos no dia de Natal, e na matiné da tarde do dia de Natal,  nos deixava na porta do cinema com os bilhetes nas mãos... Entravamos os tres no cinema de mãos dadas. Era sempre a história de Jesus! Eu sai do cinema desfigurada de tanto chorar. 
Foram anos que assistimos os mais lindos filmes contando a vida de Jesus nas matines do dia de natal. 
Meu filho se chama Thiago, pois, trago desde a infância a imagem do Apostolo Thiago. 
Uma vez por ano íamos ao cinema para ver Jesus! Era tudo tão real. Minha mãe não entrava, não dava o dinheiro para todos ir ao cinema. É uma cena que não se apaga da minha memória, nós três de mãos dadas entrando e sentando juntos. Eu no meio, era a mais velha, minha irmã de um lado e meu irmão do outro. 
Conta minha mãe  que eu era a única que saia do cinema com a face deformada de tanto chorar diante das brutalidades cometidas para com Jesus. Até hoje, choro sentida vendo filmes. 
Os ensinamentos que recebi na minha infância fazem ecos no meu coração. Não posso esquecer uma fase mística e linda dos meus natais infantis. Não era comercial, era mais humano, mais festivo, mais comemorativo quanto à data, o nascimento de Jesus. 
Já tínhamos televisão (quando eu tinha doze anos), minha mãe ganhou uma telefunkem de uma patroa onde era empregada doméstica...Mas toda tarde havia uma novela no radio e eu chorava... A novela de radio despertava nossa imaginação, criavam cenários em nossas mentes...E eu chorava muito, chorona que só eu. 
Havia mais ternura nos abraços de feliz Natal, havia mais fraternidade e mais amor. Todos da família de minha mãe se reuniam em nossa casa, era uma festa tão linda, cada um trazia um prato, um pedaço de carne para o churrasco e todos era felizes. Desse tempo ficaram pegadas ternas em meu coração. 
Viajei sozinha para uma época que nunca mais vai existir. 
Há uma certa aflição em saber que os jovens de hoje, nunca saberão de verdade o sentido dos Natais que foram os da minha infância. Meu filho não saberá. Meus netos jamais saberão. Eles são frutos dos natais comerciais, brinquedos importados e caros. 
Para meu filho, por mais que eu  tentasse passar a imagem dos meus Natais para ele, nem de longe ele iria entender-me. 
Uma das coisas que mais me fascinava era entrar na Igreja e ver as Irmãs  do Colégio Imaculada Conceição vestidas de preto e de branco, não víamos suas mãos, apenas a face e eram angelicais...Pareciam santas! Nem hoje se vê mais as freiras vestidas assim, estão a paisano, são comuns como nós. 
Quisera confortar meu coração e fazer de alguma forma que os jovens como meu filho vissem  o Natal como um dia especial e que cada Natal fosse lembrado como lembro dos meus. 
Ah! Lembro também que na ceia de Natal todos davam as mãos, fazíamos um circulo e sempre alguém falava algo lindo para Jesus como agradecimento. 
Que houve com nossos corações?
 Afinal não estou velha assim para ter lembranças tão longe, parece que era outra vida o que ficou em minha memória dos meus natais. Hoje ficou um vazio, a ternura do dia santo ausente e vida mais comercial. 
Se pudessem ouvir meu coração ouviriam um lamento triste e saudoso de uma infância de natais cheio de ternura e muito especiais. E minha alma sai de mim querendo o retorno da paz e da fraternidade dos meus infantis natais.
Um impulso me puxa para este momento, uma lagrima atrevida veio brindar meu momento com ternas recordações de dias felizes que nunca mais serão iguais e jamais serão Natais mágicos como foram. 
Descobri que a magia dos Natais se perdeu depois que cresci, que casei. Aos poucos foram ficando diferentes cada ano. Minha irmã ano passado comentou:
- Mari, nem parece Natal, né mesmo? Que estranho!
Não sei quanto aos meus irmãos, ou seja, minha irmã e irmão, mas eu gosto de viajar no meu baú de recordações, acho tantas coisas lindas lá. Gosto de relembrar a magia que foi ser criança, dos momentos mágicos da nossa infância, da saída do cinema no dia de Natal e eu chorando de tristeza ao ver Jesus sofrer tanto. Das bolachas caseiras que minha mãe fazia e pintava (ela pintava as bolachas só para o dia de Natal), durante o ano ela fazia as bolachas, mas não pintava, para não perder o encanto do Natal. 
Alguma coisa se perdeu no meio do caminho, há uma insatisfação geral, nada contenta, nada alegra a vida dos nossos jovens. Vezes depressivos, tristes e infelizes... Muitos suicidios entre jovens, vidas perdidas em drogas, porque eles não encontram mais sentido em nada. Fruto de crianças sem limites, sem uma vida normal.
Quando sei dos jovens tristes, lembro da minha infância pobre,  mais recheada de fé, crenças e ternura. 
Quando vejo os quartos dos bebes decorados com monstros (coisas da modernidade, desenhos animados, modismos) fico triste, no meu quarto e de minha irmã não havia armários, eram prateleiras feito de tábuas e uma cortina para não entrar pó nas nossas roupas, mas havia no quarto um quadro com um anjo da guarda guiando duas crianças... Não tinha como não saber que tínhamos um anjo.
Claro que depois, adolescente, junto com nosso anjo de toda infância.
Foi pra minha parede o meu ídolo, meu primeiro amor virtual,  Rivelino, da nossa seleção brasileira (sim, aquele moço de bigode). O primeiro homem que amei como homem mesmo foi meu ídolo Rivelino, tinha um pôster dele imenso ao lado de minha cama e quantas declarações de amor ele ouviu. Fiz poesias, poemas, cartas e ele sempre me olhando do pôster. 
Deixei  Rivelino no dia que me casei e ainda assim, antes de ir para a Igreja,  vestida de noiva. Fui ate meu quarto e o beijei pela ultima vez, sabendo que minha irmã iria tira-lo da parede,  assim que a festa do meu casamento acabasse e assim foi. 
Então, de tudo na vida que passei havia magia, encantamento, ternura e paz.
Nas minhas andanças, no meu diario aqui registro uma saudade imensa dos Natais de minha infância e adolescência.

Marillena Salete Ribeiro
Videira, 11 de novembro de 2004.


Este texto encontra-se protegido pela Lei Brasileira nº 9.610, de 1998, por leis e tratados internacionais. Direitos autorais

20130318


Nas minhas andanças - Sentindo na pele



Quem sabe até eu esteja errada, mas tenho muito cuidado com as necessidades dos outros. Fico profundamente triste com suas dores. Quisera fosse possível esticar o braço e aliviar de alguma forma. De algum jeito sou prestativa, não quer dizer que posso ir comprando uma roupa digna para ter um altar. Sou um ser que erra todos os dias, que chora, que acerta, que dá certo, que fracassa, que lamenta, que resmunga, que briga com injustiças, que grita com o mundo, enfim, sou um ser (acho) normal.
O que posso dizer é que tento aliviar o fardo de dor dos meus amigos, parentes e até desconhecidos. Sou grata a Deus por ter saúde e hoje viver em paz, lutando arduamente, mas em paz, e claro que há dias cinzas, outros com raios, trovões e ventanias. Como diz o grande citador (risos) Bambam " Faz parte".
Para os amigos "da velha guarda" que estão acostumados com minhas andanças, sabem que aqui é o meu diário, um diário aberto para que meus velhos e novos amigos possam ler o que se passa com minha alma e minha vida. 
Não faço correções no texto, apenas vou relatando meus sentimentos. Perdoe-me as aberrações ou cacografias.
Sentindo na pele é revelar os piores momentos que já tive em minha vida, vou relatar aqui algo que não gosto e quem sabe a partir daqui ate o final todo meu FEL esteja presente, então, vou falar de algo que me dá náuseas...
Videira é linda! Uma cidadezinha no meio oeste de Santa Catarina, mas infelizmente foi colonizada por italianos e quem não é mezenga e nem berdinazzi é sub-raça, é brasileiro ( ser brasileiro aqui é sub raça ). Como meu pedigree é vira-lata, sou sub raça aqui. 
Tenho uma avó italiana Cristina Botini, um Avô português, outro espanhol, uma bisavó alemã, e quem sabe alguém colocou seu pezinho na senzala e foi muito feliz. 
Há um misto de raça na minha família que não sei definir, ou seja defino sim, sou vira-lata mesmo. Minha pele é branca, com olhos ligeiramente verdes. Minha mãe tem os olhos cinza-azulado e minha irmã também. Mas, para o povinho abestado daqui, eu sou sub-raça. Ou seja, como sou branca até que aceitam com certa reserva.
Houve um dia que minha irmã encontrou uma velha conhecida, descendente de quinta mesmo, ou mais gerações de italianos e disse a ela:
- Apesar de tua mãe ser "brasileira" eu gostava dela.
Fico com nó na garganta de tanto nojo que sinto do preconceito. 
Essa senhora nasceu aqui, sim, aqui em Videira, no estado de Santa Catarina e no BRASIL....
Que diabos tem esse povo de se acharem superiores? Que diabos tem esse povinho de se achar uma raça especial? São ruins, e sei do que falo, são perversos, gananciosos, e se puderem arrancar os olhos de um irmão. Arrancam só para ficar com a herança dos pais. Já  vi tantos horrores cometidos pela tal raça especial que tenho nojo de lembrar. 
Aqui muitos irmãos não dão nada que sobra, é na base da troca...ou venda. Como se fossem ficar miseráveis dando o excedente. Os melhores anos da minha vida vivi em São Paulo, longe do preconceito. 
Lembro-me de uma parenta do meu ex marido, qual eu gostava muito dela. No seu leito de morte, dentro do hospital, quando entrei no quarto, havia dois dos seus filhos um em cada lado da cama brigando pela aliança de casamento da mãe. Ela desacordada, ainda estava viva, ainda consciente e eles se comendo vivos pela ganância. Pedi que eles saíssem do quarto, segurei a mão dela e perguntei se ela sentia dores, ela apertou minha mão...ela estava ouvindo os absurdos dos filhos. Pedi se ela queria que rezasse com ela. Novamente apertou minha mão, rezamos juntas, ela em silêncio e eu em voz alta.
Lembro-me também que quando fiquei noiva, a família do noivo fez uma reunião para impedir que ele se casasse comigo, pois eu iria sujar o nome da família, sendo que sou brasileira, aquela sub-raça... e minha mãe era espirita. Dois agravantes. Foi uma pena eu ter descoberto somente depois que me casei da tal reunião. O que me dói é ver nos domingos os "italianos" não perderem uma missa. Que diabos faz na igreja esse bando de sujos de alma? Será que pedem perdão para Deus na hora da missa? Pois, na porta da igreja, na saída já estão cometendo os piores absurdos. 
Quando retornei para Videira, ao lado de minha casa havia uma viúva, uma das mulheres mais perversas que já vi em toda minha vida, racista, claro italianissima nascida no Brasil (não fosse podre seria cômico)...certo dia ela falando de racismo e encheu a boca para dizer-se italiana, então perguntei que cidade e estado da Itália ela havia nascido ( sabendo que é de umas dez gerações aqui)...ela ficou sem graça e disse-me que ela nasceu aqui, então disse-lhe:
- Ué, mas acabou de cometer um crime bárbaro, preconceito e com desprezo aquela pessoa e se diz italiana. Moça você está na porta do inferno com este teu racismo sujo, se olhe bem no espelho e tente ver que podre é tua alma, o diabo é italiano, está te esperando...
PQP perco o rumo da vida com preconceito, sofri na escola, sofri na igreja, sofri pra ficar noiva, sofri pra casar... 
Pra mim gente dessa laia não me serve. 
Pior é que na minha família ( eu, minha irmã e meu irmão) tivemos a infelicidade de casarmos todos com os racistas, os italianos que nasceram no Brasil. 
O sogro de alguém que conheço, cada vez que ela ia na casa do noivo, o sogro ficava com a bíblia nas mãos para defender-se da sub-raça. 
Não diferente o meu irmão quanto ao preconeito... Mas Deus é tão justo que coloca lágrimas nos olhos dos racistas. 
Somos e seremos os eternos brancos sem raças, só porque que não somos mezengas e nem berdinazzi. Aqui, ser Ribeiro como eu, Silva, Gonçalves, Oliveira, Pereira e outros assim, sub-raças mesmo. 
Ah! Se eu tiver a graça de voltar para este mundo mais uma vez, quero vir como negra, cheirosa, faceira, alegre, com samba no pe e na face maravilhosas gargalhadas e provocativa...
Acontece que fui morar em São Paulo, saí do antro podre de alguns dos italianos racista e acreditando que em são Paulo, outro meio, cidade grande,  não sentiria na pele a burrice humana, (perdoe-me os paulistanos do bem) senti sim, não por mim, senti pelos nordestinos... basta assistir nos programas de domingo "voltando pra minha terra". Eu senti na pele duas vezes o preconceito.
Então, de coração me tornei uma nordestina que nasceu em Santa Catarina...amei cada nordestino que conheci, aprendi tanto com eles. Eles são amorosos, amigos de verdade, sem falcidade.
Umas das coisas que mais me irritava era ouvir quando algo errado era cometido:
- È coisa de baiano! OU - Mó baiano isso!
Senti na pele um povo lindo ser maltratado só por que são nordestinos. Amarguei um fel na boca ver pessoas trajando seus ternos e humilharem os nordestinos. Eu vi! Ninguém  me contou, eu morei lá. Tornei-me uma nordestina de alma e coração, afinal era forasteira la como eles.
Então me pergunto, ou pergunto para quem queira me responder
- Onde sou ou somos melhores? Onde alguém pode ser melhor que eu ou você?
 Se eu comer feijão, arroz e ovo frito e os bons também, ao sentarem no trono suas fezes serão perfumadas, com cheiro de perfume francês? Perdoe-me o termo, mas quando vou cagar,  fede e muito, e os bons e racistas não fedem??? 
Sou um ser normal, tenho minhas crises de ira sim, e falar de racismo fico com o estômago embrulhado, tamanho nojo que tenho dos tais seres superiores, os racistas. 
Hitler era alemão (austriaco?), branco feito bicho de goiaba e foi o maior assassino da humanidade. Mussolini, outro assassino, ditador italiano, aliando-se á Alemanha nazista, formando assim o eixo Roma-Berlin e caçaram os judeus (onde Mussolini criou leis contra os judeus) com sede de sangue. 
Hoje, mais modernos há os ditadores assassinos... A diferença somente de eras, armas nucleares, num mundo globalizado não há a era da espada, e hoje é a era da caneta de ouro. A era da guerra viral, enfim. 
Há também alguns médicos racistas, que deixam seres humanos morrerem pela falta de ética e respeito para com seu juramento. Não me refiro a cor da pele e nem descendência neste caso, refiro ao poder aquisitivo mesmo...Se tenho dinheiro curam câncer, e outras mais doenças, se não tenho aprodreço em vida ate a morte. 
Como disse, hoje minhas andanças tem fel do inicio ao fim, pois não suporto a crueldade humana, a falta de amor ao próximo, falta de respeito e solidariedade para com nossos irmãos. 
Diante dos olhos de Deus somos iguais, para Deus não temos cor de pele, nem posição social, ter fé e caridade é tudo de bom. Ter nossas almas livres dessas barbáries que sofri na pele. 
Mas, os bons...certamente sopitarão nos braços do demônio e o calor que receberão são as chamas do inferno.
 O que me conforta um pouco é crer que aqui se faz e aqui se paga...o inferno é aqui mesmo e de alguma forma esses seres perversos terão em seus dias de vida o que merecem, por humilharem seres que podem um dia ser seu socorro. Vivem num mundo umbroso e não elvolui espiritualmente, não há bondade, se acham superiores. 
De tudo, o que me conforta mesmo e retornando para Videira, foi sentir que as novas gerações são mais leves e livres desses preconceitos todos. São jovens mais polidos e mais humanos, estão ficando longe do bolor de seus avós e pais,  e estão criando um novo mundo e mais humano. Quisera saber que em São Paulo, qual amo perdidamente, os jovens tivessem mais respeito pelos nordestinos e que aprendessem com eles coisas maravilhosas que aprendi em tantos anos de convívio, e que o coração do jovem paulistano fosse como o meu, meu coração é nordestino...também é verde-amarelo, sou brasileira, nasci aqui, pouco me importa de onde imigraram meus antepassados, o que importa é que sou sim brasileira. 
O amor é uma das maiores necessidades de nós seres humanos, não estamos imunes de tragédias e não sabemos de onde e de quem será a mão amiga para nosso socorro na hora que tombarmos. 
Nasci no vale do Rio do Peixe e passei minha juventude sendo perseguida pelos descendentes de italianos que aqui viviam, fui embora e sentindo na pele a dor, revoltei ao sentir o que os nordestinos também em São Paulo. 
Ah meu Deus! Ah meu Deus! Que criaturas são essas que podem humilhar seres humanos? Humilham somente para sentir na boca suja  o sabor de se sentir superior. Esquecendo de todas as coisas delicadas criadas por Deus e enviadas para TODOS OS SERES HUMANOS DA TERRA. 
Passei anos escondendo meu sobrenome, e quando dizia tinha receio da reação dos seres superiores. Hoje, eu digo de boca bem aberta, eu sou RIBEIRO com muito orgulho. E meu Ribeiro quando digo é um som agradável e estou livre dos medos e da insegurança que já senti nesta terra. Vou lutar com unhas e dentes enquanto viver para que todos sejam respeitados pelas suas raças, suas digitais, crenças e tudo mais que diga respeito a vida de cada um ser de bem, que seja um ato de liberdade. 
É uma vergonha ter que se criar uma lei para que haja respeito com a raça negra, lei do racismo. A lei deveria ser criada dentro de cada família, e os pais que fossem formadores de filhos com caráter e respeito por todos indistintamente. O que deveria prevalecer é a lei do respeito e o curso da vida fosse viver em paz. 
Ajustar a uma nova mentalidade aqueles velhos racistas  é impossível, mas pode-se ajustar os jovens para uma nova vida e sem preconceitos. Nunca saberemos do nosso amanhã. 
Que sejam enterrados para sempre os antepassados e seus ranços. Que seja plantado no coração das novas gerações a flor da paz e de respeito. Que fique em nossa memória que a vida é passageira e que iremos morrer cedo ou tarde e onde nossa alma habitará, só saberemos mediante nossas atitudes. Que todas as máscaras sejam retiradas e de cara limpa possamos abrir a janela da vida e olhar nossos semelhantes como irmãos. Que não haja piedade, mas que haja amor nos corações. Não desperdicem seu tempo com coisas pequenas como o preconceito. Devemos permitir que a luz de Deus entre em nossas almas e a escuridão seja eliminada para sempre. 
Nas minhas andanças, meu diario, hoje estou num lamento ardido falando das coisas que senti na pele, uma das piores coisas cometidas que é o preconceito. 
Repousarei minha alma e meu coração na palma da mão de Deus, sabendo que ninguém mais pode me ferir como já feriram e alertando meus irmãos que sofrem qualquer preconceito, que gritem, berrem, briguem, mas não permitam que seres podres os humilhem como já me humilharam, tanto a mim quanto aos meus dois irmãos e meus pais. Mandem para o inferno os tais superiores racistas e sejam felizes como aprendi ser. É tempo de ser feliz e serei sempre feliz, pois ninguém nunca mais vai pisar na minha dignidade como já pisaram um dia.
Perdoe-me as palavras grosseiras que ditei aqui meu diário, mas coisas assim me tiram da normalidade e despejo, ou vomito toda minha ira contra os racistas e  preconceituosos.
OBSERVAÇÃO: NÃO ME REFIRO AO POVO INTEIRO DUMA CIDADE, MAS SIM OS RACISTA QUE ME CAUSARAM NOJO PELO QUE SOFRI E PELO PRECONCEITO... HÁ MUITA GENTE LEGAL QUE PASSOU PELA MINHA VIDA E AINDA MORAM AQUI.

Marillena Salete Ribeiro

Este texto encontra-se protegido pela Lei Brasileira nº 9.610,de 1998, por leis e tratados internacionais. Direitos autorais

TEXTO ESCRITO EM 2005 - REEDITADO EM 2013
 
Nas minhas andanças - TERCEIRA IDADE


Nossa! Meses que não tenho escrito minhas andanças, hoje, estou aqui novamente para contar o que tenho sentido nas minhas andanças pela vida. Muito mais de dez anos (matematica nem faz necessário pra denunciar minha idade, risos ) escrevendo minhas andanças. Texto que não tem cunho literário, é o que vivo no meu dia-a-dia e o vai no meu coração e na minh'alma.
Tantas vezes ficamos sob a marquise da vida,  sujeitos a todo tipo de intempéries. Parece que estamos sem teto, sem abrigo, sem nada, sentindo na face rajadas de ventos e o medo como companheiro... 
No ultimo Natal me senti como se tivesse seis anos, sem minha mãe perto, perdida na multidão e olhos medonhos me causando pânico. 
Falarei da minha eterna guereira. Sei que ela onde quer que ela esteja, sabe do amor que sinto.
Dezembro de 2005 minha "mamis" em Curitiba pra retirada do tumor no seio, após quimeoterapia. Internada sem a menor chance de sair viva. Meu coração era menor que o coração d'uma formiga. Passar Natal sem ela, pai e minha irmã, bem como ano novo. 
Me senti tão sozinha no mundo, nem ceia de Natal fiz, preparei algo simples, não me senti com coragem de fazer ceia, seria como se estivesse traindo eles. 
No dia 25 de dezembro fui almoçar na casa de um senhor amigo, ficaria em casa. Foi legal, mas não feliz o almoço de Natal.
Foi justamente nesse almoço que estou aqui, novamente, com mais uma lição de vida que aprendi no dia de Natal.  
O senhor, (vou dar-lhe o nome de  Seu José) têm setenta anos, aparenta cinquenta. Falavamos assuntos diversos, quando ele começou contar como foram seus últimos meses. Seu José está num grupo da melhor idade, está fazendo ginástica, o que mais me encantou foi ele contar que está fazendo curso de computação. Rimos quando ele contou que escreve somente com dois dedos, dizendo ser ele um catador de milho, ele é muito divertido. 
Seu José foi para uma consulta de rotina e a médica perguntou quais eram as atividades dele, ele contou que fazia ginástica em grupo, curso de computação, viagem em grupos ... ( ele, rindo dela ), nos contou e eu não achei a menor graça, achei um absurdo.  Ele:
- Vejam, ela me perguntou para que fazer curso de computação aos setenta anos, se não teria mercado de trabalho, e não seria útil pra mim. Qual meu interesse em usar um computador? Onde estava a satisfação nisso? (- O senhor já está quase morto, porque a expectativa de vida é setenta anos.)
Só faltou ela dizer que morresse, pois, estava com o pé na cova.
Esse lixo de ser humano é MÉDICA?
Ara, agora perguntou eu? Que diabos de curso fez essa médica? Que maldita faculdade formou essa cidadã que se intitula médica? Que bagagem trás de sua família? Que ( de ) formação religiosa tem essa mulher? Queira Deus que ela chegue na idade dele com a vitalidade e vontade de aprender coisas novas, está vivo e feliz. 
Por Deus, senti vergonha de ser mulher naquele momento em que Seu José relatava o comentário da médica. Senti vergonha de pessoas preconceituosas, senti vergonha, muita vergonha de ser humana, pois, creio eu, ser da raça humana como ela. 
Um homem com setenta anos, nasceu e viveu na roça, tudo que aprendeu foi no cabo de uma enxada. Casado veio para a cidade e foi ser frentista de um posto de gasolina, agora aposentado, pode realizar os sonhos mais puros. 
Segundo ele, sempre que via alguém diante de um computador sentia uma vontade tão grande de aprender, mas tinha filhos para alimentar e tantas horas extras, enfrentando as madrugadas frias (abaixo de zero ) diante das bombas de gasolina. Ele sonhava um dia chegar bem perto daquela máquina que o fascinava, sonhava um dia colocar seus dedos num teclado, nem que fosse por instantes. 
Agora, ele todo feliz, alegre, seu sonho era ser um operador de computador, era realidade, e vem um monstro, sim, um monstro, pois, não posso chamar nem de mulher essa médica, e pergunta para que está fazendo computação aos setenta anos. 
Quisera eu, pudesse chegar aos setenta anos com a vitalidade dele, a força e a coragem de querer aprender mais, de realizar velhos sonhos que estavam no fundo da gaveta do seu coração. 
Ele parece um menino, fazendo computação. Uma  coisa tão simples para mim, e para muitos usar um computador, mas para ele era sonho. E sonho não tem tamanho, não tem dimensão. Sonho é sonho, e feliz daquele que realiza um sonho e pode contar com um brilho de alegria no olhar. Que está vivo para poder realizar e se sentir imensamente feliz. 
Saí da casa dele, vim embora e está aqui dentro de mim, ate hoje, latejando o que essa médica fez com ele, ou seja, ela não fez para ele, fez para mim, pois, ele nem se importou com o que ela disse, mas eu me importei e muito, sou mulher e odeio preconceito e preconceituosos. Tenho tantos defeitos, erro sempre, mas não aguento o preconceito. 
Terceira idade, melhor idade, isso não existe, gosto tanto quando o Jô Soares diz que não há primeira, segunda ou terceira idade, há somente duas condições - VIVO OU MORTO.
Chegar aos setentas anos parecendo um menino, isso é uma benção, quantos jovens morreram nesse ano, quantos jovens não tiveram a chance de sequer chegar na tal segunda idade. Quantos da segunda idade partiram querendo ficar só mais um pouco, para quem sabe, sentir o gosto de estar na terceira idade e realizando sonhos. Quantos anos nos resta ainda? E quantos sonhos ainda teremos? E quantos sonhos iremos realizar?
Triste saber que um dinossauro seria mais sutil que essa medica. Um médico mandou meu pai de volta pra casa desacordado, com AVC, esperamos do sábado ate segunda pela manhã, quando o médico do pai chegou dum congresso. Sabemos de médico aqui na cidade que usa cocaína, viciado e atendendo o povo. Que medo eu tenho de péssimos profissionais.
O que faz alguns profissionais da área da saúde se tornarem tão frios, sem coração, sem alma? A universidade tem de por uma grade extra no curso - HUMANIZAR O POVO DA ÁREA DA SAÚDE.
Não vou lamentar mais, mas preciso escrever nas minhas andanças o que me dói e isso tudo me doeu muito. Estou muito sensivel!
Eu, não entendo de primeira, segunda ou terceira idade. Compreendo apenas de seres humanos, de gente, de pessoas...para mim jamais deveria ser divido por fases a nossa idade, deveria sim haver respeito para com uma criança, um adolescente e um adulto, seria assim para mim a divisao das idades. 
Me revolta a falta de sutileza das pessoas, revolta saber que há pessoas que ao abrirem suas bocas, um esgoto seria mais saudável. 
Como diz meu pai, melhor ouvir tanta barbaridade que ter nascido sem poder ouvir nada , e mesmo assim, se nascesse surdo haveria o preconceito por haver a deficiência auditiva. 
Mais um ano finda e creio  ser esta minha ultima andança do ano, que seja um alerta para os dinossauros deste século. Se não podem sorrir que se afastem, se não sabem entender de sonhos que vagueiem em seus mundos bizarros, mas não firam os outros. Se não respeitam nada que encontrem uma ilha deserta e criem seus mundos. 
Termino este ano deixando aqui minha revolta contra as pessoas preconceituosas, seja,  em se tratando de racismo, deficiências, se bem que a deficiência está nos seres preconceituosos. 
Nas minhas andanças registro meus lamentos, vitórias, lutas e minha guerra contra  o preconeito. O mundo precisa de pessoas como Seu José, que aos setenta anos sorri como um menino, que encanta quando relata suas aventuras na academia, nas aulas de computação, quando dá otimas gargalhadas dos erros que comete quando está nas aulas. 
Deixo 2005 para tras nesta ultima andança do ano, registrando minha dor de saber que uma mulher foi fria, desumana e em vez de incentivar, tentou destruir sonhos. Mas também fica comigo, a garra e a vontade de viver feliz, que este Senhor me deixa como lição, para poder iniciar um novo ano, que sonhos sao sonhos, e ninguém pode destruir nossos sonhos e quando sonhado com intensidade, ele se torna a mais doce realidade.
Terceira idade, o que é isso? Tenho comigo e reafirmo, so existem, crianças, adolescentes e adultos.. Que possamos nós seres humanos abrir as cortinas de 2006 com uma nova visão de tudo na vida, que possamos ser feliz e que o preconceito seja algo definitivamente eliminado do mundo.
Marillena Salete Ribeiro
Em: 28 de dezembro de 2005
Videira - Santa Catarina

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Nas minhas andanças... AMIGAS DE INFÂNCIA EXISTEM?



Sabe, encontramos inúmeros textos, poesias, prosas, musicas, canções e tantas outras coisas lindas descrevendo sobre "AMIZADE".
Hoje, vou contar o que realmente entendo por amizade! 
Um dia, já faz muito tempo, quase lá na era paleolítica, estava eu cursando (como era nomeado na época ) o primeiro grau. 
Primeiro dia de aula, estávamos todos agitados, contando as novidades das férias, vínhamos todos juntos de anos anteriores, não havia novidade entre os colegas de sala, apenas tínhamos passado de ano. 
Já éramos pré-adolescentes.
A professora entrou na sala, nos desejou sorte, quando ela começou a falar sobre o tema que iria ser matéria, bateram na porta. A professora abriu e logo em seguida entrou uma mocinha, rebolando, um jeito “méi” nojenta. Essa foi a primeira impressão que tive da "talzinha" que acabara de entrar. Azar o meu, havia apenas uma carteira vaga, ao meu lado! 
A menina sentou-se, jogou seus cabelos naturais e lindamente loiros. Com um olhar de superioridade olhou para todos na sala, engraçado foi que a sala toda olhava para ela, única estranha. A professora logo nos chamou para os afazeres. A aula transcorreu normal, mas a menina me incomodava e vez em quando eu olhava para ela, e ela me olhava como se eu fosse uma coisinha insignificante. Sou do tempo que havia hora do recreio, que cantávamos o Hino Nacional antes de entrar em sala. Bom, no recreio a mocinha ficou sentada na mureta em frente à porta da sala, e todos da sala saíram em grupos, já havia amizade. Eu comi meu lanche e fiquei observando a menina. Entramos, mudou de professor, mesma rotina de primeiro dia de aula...e a menina? Ela também nos observava como se fossemos de outro planeta.
Ah! Mas tem aqueles professores que adoram fazer trabalhos em "dupla" e não acreditei quando ele mesmo escolheu as duplas e menina ficou comigo. Odiei o professor. Mas, como não tinha escolha encostei minha carteira na dela sem uma palavra. Veio então o tema, eu a olhei e ela me olhou...muito sem jeito começamos discutir apenas o tema. Terminamos antes dos demais da sala e ficamos mudas. A aula terminou. 
Fui para casa pensando na menina ( claro que eu pensava e ainda penso ). Como pode alguém olhar as pessoas sempre do degrau de cima e não baixar a guarda?... 
Noutro dia a mesma coisa, só que quando cheguei, ela já estava sentada. Olhei para ela, sorri e cumprimentei-a timidamente, ela sorriu e respondeu. Naquele instante nascia a maior amizade que alguém já possa ter vivido na vida. E seguimos estudando juntas até concluir o segundo grau. Como em nossa cidade não havia universidade, e meus pais eram pobres, fiquei sem fazer faculdade.
Eu, (com muito orgulho dos meus pais) filha de um marceneiro de aberturas (papai fazia portas e janelas de madeira de lei )operário e minha mãe era empregada doméstica. 
Nasceu entre nós um amor de irmãs. Eu acho que tem essa tal encarnação, na passada eu e ela éramos irmãs gêmeas. 
Eu, sempre tímida, baixinha de cabelos cacheados e castanhos escuros, ela com olhos muito azuis, loira e alta... Ela esguia e magra e eu achatadinha e cheínha, não gorda na epoca, rs, que contraste o nosso fisicamente. Ela falante, alto tom de voz, eu mais calada e tom baixo de voz. Ela era ela, tipo: cheguei chegando. Eu procurando sempre o anonimato e timida. 
Metade da semana eu dormia na casa dela e a outra metade ela dormia na minha casa. Amigas? Não, nós éramos irmãs. 
Mas o destino separam amigos e irmãos do convívio diário, mas jamais os retira de nossos corações... Ela partiu pra outra cidade, eu fui pra São Paulo e nos perdemos. 
Mês passado o irmão mais novo dela veio jantar na minha lancheria...contou para a esposa dele que era eu a irmã dele éramos amigas inseparáveis. A esposa dele disse-me:
- Mari, tua amiga agora mora em São Francisco do Sul, próximo á Joinville. 
Contei para ela algumas passadas nossas...
Ah! O nome da minha amiga? 
Justina Inez! 
Pra mim será eternamente Justina, e não como ela gosta Inez.
Justine amava Hildo, e Hildo amava Justine. Se é coisa do destino eu não sei mas, o pai de Hildo havia prometido ele em casamento para a filha de um fazendeiro que fazia divisa de fazendas e o dia do casamento foi marcado...
Justine chorou perdidamente. Antes dele viajar veio ate minha casa para eu ir com ele na casa dela... Como inseparáveis amigas a consolei, porém, consolo não havia. 
No dia do casamento dele ela foi dormir em minha casa e amanheceu chorando...ele bateu na porta de minha casa ás seis horas da manha, meu pai a chamou e ela nao desceu, fui falar com ele. Chorando ele disse que a amava, mas que teria que se casar. Ele partiu e ela passou o dia chorando e eu também. 
Nesse meio de tempo eu namorava o Nelso, que foi meu marido por vinte anos . Casei-me e dias depois ela foi embora para Curitiba...a vi novamente quando meu filho tinha um ano. Ela veio e ficou na minha casa dois dias. Alguns anos depois já com quase trinta anos ela se casou e durou pouco seu casamento. 
Quando meu filho tinha sete anos nos reencontramos novamente. Fui morar em São Paulo, perdemos o cantado mais uma vez. Ela se casou novamente. 
Estou contando tudo isso porque hoje, estava eu trabalhando na lancheria, um movimento louco, uma correria...quando viro-me e olho para a porta, vejo dois olhos estupidamente azuis sorrindo para mim e braços abertos. O primeiro abraço foi por cima do balcão silencioso, saudoso e choroso. Saí de trás do balcão e houve outro abraço também em silencio e lagrimas. A vida trás sempre para nosso coração quem escolhemos para ser irmãs, aqueles seres que escolhemos para irmãs e irmão, e escolhemos para ser para sempre irmãos. Minha irmã voltou para meu coração. 
AH! Na correia eu falava e ela falava...mesmo assim ficaram tantas pendências, ela ficou uma hora, eu trabalhando, emocionada e atrapalhada e ela falando.
Emoção?
È mais que emoção, rever irmãos depois tantos anos é nascer de novo. Justine está bonita com os olhos azuis que parece pintado á mão, ela era linda, e está ainda uma cinquentona (vai me matar rsrsrs)linda de viver,sabe aquelas moças que não passam despercebidas? Que param o transito? Justine era assim, linda! Eu perto dela era o patinho feio. Mas nossa afinidade é algo de outro mundo. 
Ela disse-me triste:
Ficaremos velhinhas e fofocando e nada nunca mais irá nos separar desde agora...
Foi um reencontro de uma hora que valeu uma vida toda. Agora, ela irá ler este depoimento emocionado como prova do meu amor pela irmã que a vida me presentou.
Eu nunca a esqueci em nenhum momento de minha vida e nem ela.
Quando dormíamos em casa, madrugada, quarto escuro e nós rindo e falando de namorados, Seu Vico (meu pai) dizia: - Meninas, por favor, dormir, eu preciso dormir e vocês ficam so rindo.
Ô lá em casa! Que saudade desse tempo que mundo foi pintado de cor de rosa so pra nós duas ser feliz e rir de tudo!
Então, descrevo agora o que é amizade (amigas de infância ) que vem desde adolescência e fica para sempre dentro do nosso coração. 
Por sorte minha mãe estava junto comigo, conversaram e se abraçaram longamente, minha mãe também a amava como filha. 
Somos irmãs, como digo sempre...Deus sabe quando precisamos escolher nossos irmãos, então ele nos envia os amigos. 
O que aprendi sobre amizade vem de Justine, o que aprendi sobre amizade vem de gente como Lurdes Forni, Faffinha, Elisete Herrera, Lizete Abrahão, Neusa, Denise, José Roberto, minha irmã Marlene, mega companheira e amigas (os) que vierem e outros que estão vindo, a vida me emprestou pra me fazer sorrir quando meus olhos falam em forma de lágrimas... cada dia aprendo de forma nua e límpida o sentido real da palavra amizade. Sei que cada um de nós tem as nossas Justines em nossas vidas, irmãos que escolhemos para a vida toda...
Que Deus nos permita sempre poder contar nossas experiências e que as lagrimas fossem sempre como as de hoje, da mais pura emoção e sem mais saudades.
Eu acredito tanto em tudo que faço, tenho tanta certeza que um dia é sempre melhor que o que já adormeceu para sempre. 
A vida pode mudar nosso semblante, nosso destino, mas ainda assim estamos agora na condição de mulheres de cinquenta, que quando se encontra tornam-se adolescentes mais uma vez.... o espelho não engana, mas meu coração adormecerá leve e ao despertar vou sentir ainda a brisa da adolescência...lembranças de mim e de Justine, uma amizade que será para sempre...
A prova da nossa diferença tá nessa foto dela, discursando como candidata vereadora. Creio que seja as nossas diferenças que faz essa aamizade não pender pra lado nenhum, sempre no equilibrio.
Opsss, minha amiga de infância é a melhor amiga do mundo, o melhor ser humano e a amo!

Marillena Salete Ribeiro

Nas minhas andanças - NORAS X SOGRAS


Em 1996 quando comecei escrever o meu diário, nele deposito histórias de minhas andanças, meeu quotidiano, e o ocorre pela vida até então vivida.
Afirmo segura que aprendi tanto, seja na alegria e muito mais na tristeza e desilusões, frustrações, medos e tudo mais envolve a vida d'uma mulher sonhadora.
Sabendo da minha historia, da historia de muitas mulheres sei da importância, e o quanto é bom ter um dia especial dedicado para todas as mulheres. Dia 8 de março é o dia Internacional da Mulher. Uma homenagem justa para todas as mulheres que venceram seus medos, suas crises, a idade e o sofrimento.
Poderia novamente falar de minhas dores, do quanto sofri, de como superei tudo depois de ter caído e quase sem forças levantei e segui minha vida sonhando e realizando. E anos após anos foram tombos feios, foram traições, foram tantas coisas que me feriram, mas não sou a unica mulher que sofre no mundo. Tem histórias de mulheres que ate Deus duvida. Tem as que os seus companheiros batem, ferem e matam. Fui casada 20 anos, divorciei, mas sem agressões. Segundo relacionamento, ô mão bichada a minha, fui vítima de violência, levei chutes enquanto dormia, e escondia de todos, era vergonhoso eu  ter errado mais uma vez na minha escolha, sofri calada sete anos. Mas um dia tem de chutar a barraca e dar um basta. Mas não é o motivo do assunto hoje, aqui no meu diário.
Dia de faxina hoje, a lancheria está fechada, mas sempre tem um fornecedor,  enquanto esfregava o banheiro, sempre cuido da minha casa nos intervalos do meu trabalho (pois há sempre um fornecedor, há compras, há clientes e não descuido do meu botequinho), estava pensando em nós mulheres. Somos filhas, irmãs, sogras, noras, netas, amigas e principalmente mães...de tudo que considero importante, ser mãe é o mais difícil de ser levando de maneira suave e sem lágrimas, principalmente quando nossos bebezinhos torna-se adultos, homens e mulheres.
Eu, minha irmã, e irmão sofremos preconceito por ter nascido numa terra colonizada por italianos, e não ter sobrenome Mezzenga e nem Berdinazzi (novela),  foi duro na escola o preconceito, na igreja, ser Ribeiro aqui é ser sub-raça, tamanha rejeição quanto ao sobrenome.
Lembro minha mãe não sorriu sendo sogra, lamento afirmar isso, mas é real. Unico filho homem.
O que me dói e ao mesmo tempo me conforta que todas as pessoas preconceituosa paga em vida. O desrespeito vem em forma de dor, leve o tempo que levar, brotará uma lágrima de dor.
Eu não tive sogra, não sei como é. Quando entrei na igreja pra me casar com Nelso, sua mãe ja era falecida. Meu sogro e meu pai foram os dois homens mais honrados que já cruzaram meu destino.
Enquanto esfregava o banheiro, meus pensamentos vagavam sobre o relacionamento noras e sogras. Por Deus, nunca vou entender como pode ser tão difícil essa relação.
Será que somos severas demais?
Será que passaremos a vida toda protegendo nossas crias de unhas e dentes, mesmo quando nao mais estão sob nossas asas?
Que me perdoe minha nora, nao é julgamento e sim uma constatação de realidade, onde me pego discordando e dando razão para meu filho sobre algumas de suas atitudes. Em outros momentos discordo do meu filho e dou razão a ela, assim é a vida.
Mas o tempo passa e as sogras morrem, e a noras torna-se sogras...e o ciclo vicioso de noras odiarem suas sogra segue e sem razão, porque tudo que ambas querem é respeito.
A casa da minha nora é casa dela, não minha. Ela cuida do jeito que ela achar melhor e gostar. A minha casa é meu espaço e tenho ele do meu jeito. Eu respeito minha nora enquanto ela fizer uso do respeito para comigo, contrario também sei me defender. Mas eu não dou palpites, eu não me meto na vida deles e nem de ninguem.
Claro que tem coisas que não acho legal nas atitudes da minha nora, jovem ainda, muito aprender. Mas por outro lado ela também não gosta de coisas em mim. Somos diferentes, por isso ocorre algumas incompatibilidades, mas onde há respeito e tolerância, há amor e convívio descente.
Não sou sogra de dar palpites, opinar. Prezo pelo respeito.
Mas há sempre um lamento d'uma mãe. Eu vi noras ganhar tudo da sogra, entrar na casa da sogra feito mendiga, e depois chamar a sua sogra de " a véia ". Triste, muito triste a falta de respeito.
Quer ver uma mãe morrer de dor e tristeza é ver seu filho sofrer nas mãos de sua nora. Não poder fazer nada, apenas assistir.
Na condição de mãe somos leoas, feras mesmo. Zelamos pela saúde dele, vigiamos tudo  a sua volta para saber se está tudo bem... e quando eles alçam voô e se vão, ficamos espiando pelas frestinhas da vida e lagrimas dependuradas nos cantos dos olhos.
A bem da verdade é difícil, doloroso aceitar a idéia que na condição de mãe, temos que entregar os filhos para meninas que irão aprender  ser donas de casa, mulheres de verdade e ainda carregam em si toda futilidade d'uma vidinha ainda adolescente. Por outro lado há moças que ja nasceram adultas, sábias, são donas de si, competentes... mas não somos nós, mães que iremos escolher. A escolha é meramente dos filhos, e nós devemos ficar na posição de mãe, avó e amiga sempre.
Minha sogra é uma megera, nossa! Como eu ouvi isso. Será que se essa moça fizesse um exercício de tolerância ela também deixaria de ser megera?
Hoje, as mulheres estão cedo no mercado de trabalho. As tarefas de casa tem obrigatóriamente de ser dividida entre o casal, nem tudo pra ela e nem tudo pra ele, dividir pra poder somar e multiplicar.
É muito difícil entender o universo de noras x sogras. São rarissimas as sogras satisfeitas com suas noras. Bem como raramente vejo uma nora que aceite sua sogra como amiga e maezona.
Há uma disputa desleal de ambas as partes. Mas quem leva vantagem é a nora, perdão, mas é realidade. Elas têm o poder do convencimento tirando a calcinha e as mães somente o amor
Muitas mãe fazem um esforço sobre-humano, para tolerar e assim ver seu filho pelo menos uma vez por mes. Era somente haver respeito, tolerância e amizade.
Não sei quem está errado nesse caso, se as mães que desejam tudo de bom para seus filho ou se as noras com seu amor de mulher para com um homem.
Marina, minha nora, somente ela, porque tenho filho unico, não é indireta e muito menos direta pra ela. Semana passada vi uma mãe com a pressão arterial em 19x15, causa, a nora. Ela foi parar no pronto socorro, tamanha falta de respeito da nora que cuspiu na face dela.
 Eu sei de mim, e o que há de se dizer do destino...
Nas minhas andanças sempre encontro sogras tristes e infelizes com o destino e as escolhas de seus filhos,  e não se pode fazer nada, a não ser rezar e pedir a Deus que cuide deles...
Não tenho lembrança d'uma nora que falasse bem de sua sogra, e os adjetivos sao absurdos e sem respeito para com uma mãe. Mãe, uma senhora, a mãe do marido. Claro que há sogras que invadem a vida de seus filhos e não respeitam a casa de sua nora, fazem da casa da nora a extensão da sua...mas na grande maioria são as noras que não direcionam o respeito para com a mãe de seu marido.
De tudo, o que fica sempre é uma saudade, sim, saudade dos netos. O casal briga e avós padecem de saudade, eles são afastados das sogras-avós como se tivessem uma doença contagiosa.
E por falar em mulher, no dia internacional da mulher seria ótimo que as mulheres pudessem d'alguma forma tornarem-se seres especiais, uma para a outra. Pois somente pode existir respeito entre noras e sogras, onde cada uma entendesse que são duas mulheres amando um único homem, mas que são formas diferentes de amor. Um amor é eterno, para sempre o amor de mãe, e o amor entre um homem e uma mulher pode ser passageiro...sim, passageiro e nem ficar laços afetivos, não ficar nada desse amor.
Que a palavra respeito seja a regra da boa convivência todos os dias na vida dessas mulheres, e digo isso, pois, sou nora e sou sogra.
Amo perdidamente meu filho e o que me conforta viver sozinha, é quando ele não tem mais espaço, quando seu mundo fica muito estreito, ele vem pedir colo para mim, chora, lamenta, come e sai alviado, cheio de ideias... eu sou a sua mãe. Bem como todos os filhos são assim, sejam filhos de sogras ou filhos de noras, eles sempre voltam para onde sabem que o amor é para sempre. Mesmo estando seguros na relação no momento. Cada nora mãe de filho homem, um dia irá falar sobre esse meu escrito e me dar razão.
Meu coração fica apertado quando nãaao vejo meu filho, nem que seja de longe, sinto essa necessidade de pousar meus olhos sobre ele e saber que está bem... Preciso ver o sorriso dos meus netinhos, e um dia da minha netinha. Eles me renovam, devolvem-me a esperança.
È injusto para com as sogras que afastem os netos. Correto é jamais falar mal das avós diante deles, ou seja correto é nao falar mal de ninguém. 
Sei bem que toda mãe gostaria de poder escolher sua nora. Voce que é nora e tem filho menino vai entender lá na frente, no futuro não tão distante assim. Mas o que vale mesmo é o respeito!
Sempre digo, amo perdidamente meu filho, mas nem por isso permitirei que nora minha me ofenda, e não tenha respeito para comigo, eu a respeito e espero a mesma postura. Se um dia ela me ferir profundamente, a tal ponto de eu não a perdoa, ambas temos a perder, porque eu deixarei de aprender com ela e ela comigo. Sendo, é melhor cuidar desse amor que vem d'uma mãe, que resolveu amar sua nora como filha sem te-la parido... aproveite, esse amor é gratis e faz um bem danado.
Estou aqui torcendo que aquela senhora-mãe-sogra tenha saido do hospital bem, sem mais aquele choro frouxo e profudamente triste. Que Deus a tenha em sua mão, protegendo-a.
Então, no meu diário, hoje, nas minhas andanças deixo registrado meu lamento para com essas relações bizarras, triste e amargas.
Quiçá um dia noras e sogras se amem como mães e filhas, mas até então gostaria que ficasse algo tão simples e fácil de ser cultivado que é o "respeito" e a tolerância.
Assim, como nora e como sogra registro que comemorar o dia internacional da mulher é algo lindo e há se brotar no coração de cada mulher um novo amor, um sorriso e nada de sofrimentos.
Feliz dia Internacional da Mulher para mulheres sábias, inteligente e doces, que são noras e sogras que superaram a barreira e curtem  o amor sem medo de ser feliz e com todas as diferenças.
do planeta terra

Com carinho
Marillena Salete Ribeiro

Este texto encontra-se protegido pela Lei Brasileira nº 9.610,de 1998, por leis e tratados internacionais. Direitos autorais

RELENDO MINHAS ANDANÇAS - O MEU DIÁRIO - março/2013
 

Nas minhas andanças....por mais que o tempo passe nada se apaga ( estou em 2005)


Tinha que começar meu diário com lembranças...e lá vem o passado todo assanhando, abrindo a janela do tempo e jogando-em dentro desse tempo que não voltará mais, mas que há lembranças e saudade.
Há uma melodia saudosista em meu coração agora. Houve momentos que o chão sumiu sob meus pés, afundei no baú de lembranças e voltei na época em que era adolescente, como se estivesse de corpo presente.
Os ares passam, passam chuvas e tempestades, passam anos e uma vida vivida, e as coisas que marcam nossa vida, vezes vem á tona um sorriso de saudades como por encanto...
A vida é como uma bela canção, pode passar os anos que passarem, mas as notas d'uma canção fica. As coisas boas da vida sempre ficam como melodias, e um dia ao ouvi-la novamente volta recheada de lembranças e encantar nossa vida. Vindo fundir eternos momentos com a nossa realidade. De tudo na vida, fica sempre um momento gravado na memória, fica naquela caixinha fechada com laços e fitas. Raramente desatamos o laço e raramente abrimos, mas sabemos do conteúdo. O que nos perturba é quando alguém puxa a ponta da fita, desmancha o laço, abre nossa caixinha de recordações e nos joga dentro do passado, onde, os mais doces momentos foram vividos vividos.
 Há coisas delicadas em nossa vida que ficam guardadas para sempre, um som delicado, um sorriso, um abraço,  o primeiro e tímido beijo, o primeiro namorado. A vida vai seguindo contando e escrevendo nossa historia. O que realmente importa vai para dentro da caixinha de boas recordações, demais o tempo se encarrega de apagar.
 A vida deveria ser sempre de alegria, de sorrisos. Deveríamos eternizar coisas boas e ter a paz que tanto buscamos.
Ontem enviei uma mensagem onde o assunto foi sobre "almas gêmeas".
Então, voltando no tempo, o meu primeiro namorado, aquele do primeiro beijo, do primeiro cheiro de homem próximo (claro que somente o cheiro do pescoço, pois na época sexo, credo nem pensar e me casei virgem alguns anos apos ).
Era uma época que havia alegria apenas de viver. Um tempo bom de ser vivido, pois havia mais inocência, mas respeito, mas romantismo no ar.
Adolescente e inocente, diria que era tola a tal inocência, mas muito bom viver sem medo e segura nos ensinamentos que recebíamos em casa.
Nas minhas andanças de hoje, primeira de 2005, aqui no meu diário registro um momento constrangedor que passei.
Chegaram na lancheria um grupo de jovens e dentre um homem careca com feições familiares, a sensação foi que aquela face já tinha vivido na minha vida, me era muito familiar aquele homem careca. Ele chegou acompanhado d'uma namoradinha, pois, a diferença de idade era um tanto quanto grande, diria que poderia ser a filha dele (sem maldade, apenas analisando). Ele com quarenta e oito anos e ela com vinte anos. O grupo acomodou-se e pediram cervejas, lanches, refrigerantes, sucos, porções e coisas mais. Mas o que me incomodava é que aquele homem me olhava de maneira insistente, e acompanhado da garota, fiquei muito sem graça, mas muio sem graça. Eu estava no caixa e sempre observando o salão. Um dado momento ele levantou aproximou-se do balcão onde eu estava e perguntou-me:
- Você é Marilena?
-Sim, sou eu, e o Senhor?
Ele riu do senhor....e
- Senhor? Não posso crer que pra voce eu me tornei um senhor. Não lembra mais de mim?
Perdoe-me, sei que é familiar sua face mas nao lembro...sua voz está gravada na minha memória, mas...
E com um sorriso cheio de ferragens (o tal aparelho nos dentes) ele disse:
-Lembra da nossa formatura (na época era segundo grau)? Dancei com você, vestia um vestido salmão e te beijei muito naquele baile. Eu era apaixonado por voce, namoramos...como pode me esquecer?
Meu coração bateu no céu da boca, dando chicotadas na minha lingua, fiquei tão incomodada que derrubei tudo que tinha nas mãos. Que estranho o nervosismo que senti diante daquele homem, e o que me deixa profundamente irritada agora é que, nao consegui disfarçar o nervosismo do momento.
Hoje, ele tão diferente do meu primeiro amor, do primeiro homem que me beijou, da primeira paixão.
Então me pergunto: O que me perturbou tanto? Perdi a concentração no que estava fazendo. E ele percebendo meu nervosismo disse sutilmente e educadamente  que o tempo passou, mas que ele nao esquecia nada das coisas boas que lhe acontecera. Falei muito pouco, foi tão estranho a sensação que senti naquele momento. Não entendo o que pode ter me deixado tão perturbada, tudo que pegava derrubava, outro cliente veio acertar a conta, nao consegui fechar a conta e pedi ajuda. Nossa! Como é estranho alguém vasculhar nosso baú, sair e deixar tudo espalhado pra gente ir arrumando e chorando u sorrindo por todos os detalhes novamente onde estavam.
Agora escrevendo em meu diário, imagens pipocam na minha memória, como fotografias amareladas pelo tempo e as recordações daquela época, que tempo lindo vivido! Um tempo sem preocupações, sem dores, sem tristezas, era tão somente de sonhos e nada mais. Não havia um sinal que eu sofreria tanto, durante a vida que estava a minha espera.
Instalou-se dentro de mim uma paz tão grande, pois, o que há agora, são lembranças d'uma vida linda e de ótimas recordações.
Ontem mesmo encontrei um rapaz que foi nosso funcionário, recepcionista do nosso hotel a muitos anos, ele contando-me que separou e casou-se novamente e tem uma filha de oito anos com a atual, na época conheci seus dois filhos do primeiro casamento, ele falou da ex mulher com certo arrependimento de ter separado dela. Falou com saudade e amargura dela. O mundo gira e o passado de tempos em tempo volta remexer tudo dentro de nós, no presente. Dizem que devemos esquecer o passado, mas não tem como, pois, quando está esquecido vem alguém, nos desperta e somos jogados dentro da nossa caixinha de recordações, ficando algo no ar sem explicação.
Durante muitos anos briquei que o fato de eu ter casado virgem com Nelso, a culpa era do meu primeiro namorado riamos. Que ele tinha uma dívida comigo do tal fazer amor.
Hoje, levei um mega susto diante dele. Meu primeiro amor veio mexer e remexer no meu passado. O sorriso dele é o mesmo, a tranquilidade no falar, ele fala pausadamente e mansamente ainda, é muito sereno, nao mudou o jeito tranqüilo e doce de ser, é terno e sorri ainda com os olhos... Pode tudo ter mudado na vida dele, perdido os cabelos, mas  permanece a serenidade que um dia conheci e me fez apaixonar perdidamente por ele. O namoro acabou por bobagem e ele lembrando o motivo tolo.
Ele passou parte noite com os amigos e namorada, vez em quando nossos olhos se cruzavam e ele sorria pra mim. Aquele velho sorriso, tão doce, foi me deixando tão perturbada, vim para casa sem entender o que me perturbava. Poxa vida, ele era passado, havia ate teia de aranha nessa história, com um passe mágica tudo fico azul e rosa.
Voltei trabalhar e ele veio novamente ao balcão falar comigo. Perguntou quantos filhos eu tinha, falei que um só e que já era avó, ele sorriu e disse que ainda não era vovó, os meninos dele nem pensam. Falou que trabalhava ainda na Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina). Ele entrou na empresa quando começamos namorar e faz anos, muitos anos. Trabalha aposentado na empresa.
E assim, aqui estou eu, diante do meu passado mais uma vez e que não me venham com aquelas frases tolas como: Quem vive de passado é museu.
O meu passado foi minha vida vivida, se um esquece,  um outro alguém vem e refresca a memória.
De tudo, o que mais me intriga é como pude ficar tão perturbada diante dele, ele todo alegre diante de mim, como se fosse a coisa mais natural mexer no meu passado. Sem muito sorrir, mas respondendo a tudo, querendo que uma parede se formasse na nossa frente. 
Será justo o que senti?
Que motivos me deixariam tão perturbada diante dele?
Claro que foi o homem que me fez descobrir o amor, que senti o gosto bom do primeiro beijo, e sem contar que estudamos na mesma sala por anos seguidos.
Ah! Não sei que houve comigo hoje!
Não consigo entender mais nada, o que poderia ser uma conversa normal e alegre, não foi não, pela minha inquietude.
Que fez esse homem comigo? Que me fez perder o rumo da vida por alguns minutos e nao me fez querer cantar. Fiquei assustada. Não pensei em dançar ao vento, nem saltitar de alegria, nem foi tristeza, foi susto.
Acho que fiquei com medo do tempo em mim, dos estragos feito. Apenas veio uma doce recordação da fase em que minha pele ainda era acetinada, não havia marcas do tempo, minhas curvas eram perfeitas, ao redor dos olhos, as ruguinhas nem de longe se assanhavam, e eu nem sabia de sofrimentos, não sabia das dores que a vida causa e nem das lagrimas que derramei.
Houve sim a brevidade d'uma existência doce e terna de descobertas, de sonhos por sonhos.
E sendo assim, nosso passado não mais existirá quando não respirar mais, ou quando nenhuma chuva cair, o sol não nascer. Quando não houver mais as fases da lua e nenhuma alegria restar. O passado morrerá quando ninguém mais sorrir, o amor se transformar em vazio e a paz deixar de ser vivida. A esperança for algo desconhecido, o passado então morre e tudo mais que estiver vivo também morrerá.
Na capa do meu diário  está escrito "Nas minhas andanças". As letras, frases que discorrem pelo meu diário é como uma canção que tagem livres, sem medo de compor o que sinto.
 Hoje, minha primeira andança após muito tempo sem abrir meu diário. registro um momento de desconforto para meu coração, onde, ate agora não entendi minha reação. Será que ao vê-lo com seus raros cabelos brancos, mais envelhecido, eu não quis me ver também depois de tantos anos? Será que senti medo de envelhecer? Com quarenta e poucos anos, sou mais moça que ele, não muito.
Será o homem do primeiro amor, aquele amor de adolescente, de descoberta, deveria ter ficado lá no passado sem eu saber nunca mais dele?
Hoje, estou madura com todas as marcas que o tempo pode deixar em nosso corpo, não há a rigidez na pele, que um dia foi lisa e firme, mas há sim maturidade, aprendizado, coleções de grandes lições de vida, sendo elas de dores e de alegrias.
Não sei que imagem ele levou de mim, mas ficou aqui a imagem d'um homem maduro, não é mais aquele garoto que me beijava apaixonado. Que andavamos correndo na chuva feito dois bobos. Que riamos de bobagens.
Por mais que o tempo passe, o que um dia vivemos não há nada no mundo que apague, a não ser a morte e mesmo assim tenho duvidas se cairá no esquecimento.
Procuramos é esquecer o passado de sofrimentos, de dores e lamentos. Temos a obrigaçõ de viver o presente e esperar o futuro, mesmo que muitos não pensem assim.
Eu, descobri que o passado vem á tona sempre, mesmo fugindo e escondendo-se dele atrás da cortina. Encenamos inúmeros atos, mas é na coxia que a vida real acontece.
Nossa busca é sempre a felicidade, não sabemos em que momento a encontraremos, mas a busca é constante.
Entre o desconforto  e a realidade, fiquei feliz em te-lo encontrado, e remexer no meu baúzinho de recordações e saber que ele me fez muito feliz.
Então, abro o meu diário em 2005, registrando meu momento de desconforto diante da vida e foi rasgado o véu que cobria minha caixinha de recordações...agora, vou fazer novamente o laço, fecha-la e guarda-la, não sei quando e nem quem será o próximo a desamarrar a fita e remexer novamente na minha caixinha secreta.
Descobri finalmente que nada apaga o passado, que viver de passado é impossível, mas que é possível revirarem nosso passado e nos perturbar muito sem sentir dor.
Que seja possível estarmos juntos em minhas andanças por muito e muito tempo. E como todos sabem, quando escrevo meu diário não faço correções ortográficas. Apenas dividido minha vida com voces todos que são amigas e amigos por anos e anos.

Marillena Salete Ribeiro
Videira-Sc


Este texto encontra-se protegido pela Lei Brasileira nº 9.610,de 1998, por leis e tratados internacionais. Direitos autorais